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Vinte anos sem Jacques-Yves Cousteau

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Vinte anos sem Jacques-Yves Cousteau

Vinte anos sem Jacques-Yves Cousteau

Ele revolucionou as técnicas de mergulho e revelou ao mundo os mistérios e encantos das profundezas marinhas. A bordo do ‘Calypso’, tornou-se mundialmente conhecido por suas expedições oceanográficas. Seus filmes e documentários subaquáticos marcaram fortemente duas gerações e até hoje são rica fonte de conhecimento dos oceanos, despertando as consciências para a necessidade da preservação da biodiversidade marinha. Nos vinte anos da morte de Jacques-Yves Cousteau, Diário de Bordo mergulha na vida do grande explorador do mundo silencioso.

Primeiros Anos

Jacques-Yves Cousteau nasceu em Saint-André-de-Cubzac, França, em 11 de junho de 1910, filho de Elizabeth Duranthon e Daniel Cousteau. Nos primeiros sete anos de sua vida, Jacques sofreu de enterite crônica, uma dolorosa inflamação intestinal. Em 1918, após o Tratado de Versalhes, Daniel encontrou trabalho como assessor jurídico de Eugene Higgins, um rico expatriado de Nova Iorque. Higgins viajou extensivamente por toda a Europa, levando sempre consigo a família Cousteau. Jacques reteve poucas lembranças de sua infância. Suas primeiras impressões, entretanto, envolviam água e navios. Higgins encorajava Cousteau na prática da natação, atividade que contribuiu para a melhora de sua saúde. Em 1920, a família Cousteau acompanhou Higgins em viagem à Nova Iorque, aonde Jacques ingressou na Holy Name School, em Manhattan. Nas atividades físicas da escola, praticava patinação sobre rodas e stickball, uma espécie de beisebol de rua. Nos verões, o estudante frequentava o acampamento do Lago Harvey, em Vermont, local onde deu seus primeiros mergulhos. Aos 13 anos de idade, depois de uma viagem ao sul da fronteira americana, Cousteau escreveu um livro em seu caderno de anotações, intitulando-o “Uma aventura no México”. No mesmo ano ocorreu seu primeiro contato com as filmagens, após a aquisição de uma câmera Pathé, na qual registrou o casamento de seu primo e produziu filmes melodramáticos de curta duração.

O Lago Harvey, em Barnet, estado de Vermont, Estados Unidos. Local onde Jacques Cousteau efetuou seus primeiros mergulhos, no início da década de 1920.

Olhos que se abrem para o mar

Durante sua adolescência, Cousteau foi expulso de uma escola secundária francesa por “experimentar” as janelas da escola com pedras de diferentes tamanhos. Como castigo, foi enviado para uma academia de estilo militar perto da fronteira franco-alemā, onde se tornou um estudante dedicado. Graduou-se em 1929, inseguro da carreira a seguir, mas acabou optando pela área militar simplesmente porque lhe oferecia a oportunidade de viagens prolongadas. Depois de passar por um rigoroso exame de admissão, foi aceito pela Ecole Navale, a academia naval francesa. Sua classe embarcou em um cruzeiro mundial de um ano de duração, jornada a qual ele aproveitou para documentar a tudo e a todos, de Douglas Fairbanks, o famoso ator, ao Sultão de Omā. Formando-se em segundo lugar em sua turma, em 1933, Cousteau foi promovido para segundo-tenente e enviado para uma base naval em Xangai, na China. Incumbido de pesquisar e mapear a região rural, nas horas livres filmava lugares da China e da Sibéria.
Em meados da década de 1930, Cousteau retornou para a França e entrou na academia de aviação. Em 1936, pouco antes da formatura, envolveu-se em um acidente de automóvel quase fatal, que mutilou seu antebraço esquerdo. Seus médicos recomendaram-lhe amputação, mas ele preferiu escolher a reabilitação, a partir de um auto-tratamento. Para recuperar o braço ferido, começou a tomar banhos diários em torno da baía de Le Mourillon, a leste de Toulon. Durante o processo, apaixonou-se pelo mergulho com óculos, maravilhando-se com a variedade e a beleza da vida submarina. Mais tarde, escreveria em seu livro “O Mundo Silencioso”: Um domingo de manha… Entrei no Mediterrâneo e olhei através dos óculos de Fernez… Fiquei atônito com o que vi nas águas rasas de Le Mourillon: rochas cobertas de verde, marrom, florestas prateadas de algas e peixes desconhecidos para mim, nadando em águas cristalinas… As vezes, temos sorte o bastante para saber que nossas vidas mudaram, para descartar o velho, abraçar o novo e correr de cabeça para baixo em um curso imutável. Isso aconteceu comigo em Le Mourillon, naquele dia de verão, quando meus olhos foram abertos para o mar”.

Uma das praias da baía de Le Mourillon, a sudeste da cidade de Toulon, na França. Mergulhando nos arredores de Le Mourillon, Cousteau despertou sua paixão pelo mar. “O mar, quando lança o seu feitiço, prende-nos na sua rede de encanto para sempre”, diria mais tarde.

Experiências durante a II Guerra Mundial


Durante sua convalescença, Cousteau conheceu Simone Melchior, uma estudante de ensino médio, de 17 anos, que morava em Paris. Após namorarem por um ano, casaram e se mudaram para uma casa perto da baía de Le Mourillon. O primeiro filho do casal, Jean Michel, nasceu em março de 1938. O segundo filho, Philippe, nasceu em 1940. Nessa época, a vida tranquila da nova família à beira-mar foi ameaçada por eventos mundiais. A França começou a se preparar para a guerra e Cousteau fora promovido a oficial de tiro a bordo do ‘Dupleix’. O conflito desenvolveu-se principalmente em ações terrestres e, rapidamente, a Alemanha derrotou o mal preparado exército francês. Contudo, viver na parte desocupada da França permitiu a Cousteau continuar suas experiências e ainda passar muitas horas com sua família. Em seu tempo livre, experimentava dispositivos de fotografia subaquática e tentava desenvolver aparelhos de mergulho aprimorados. Patrulhas alemās muitas vezes questionaram-no sobre a finalidade do uso dos equipamentos de mergulho e fotografia. Embora convencesse as autoridades de que o equipamento era inofensivo, Cousteau estava, de fato, empregando tais dispositivos em serviço do movimento de resistência francês. Por seus esforços, recebeu mais tarde a Croix de Guerre avec palm – Cruz de Guerra com palma.
Em suas experiências com equipamentos subaquáticos, Cousteau lamentava as limitações do óculos de mergulho, que não possibilitavam muito tempo de fundo. As mesmas dificuldades encontrou no escafandro, que prendia o mergulhador ao navio e cujo grande peso prejudicava os movimentos. Seguiram-se vários experimentos com outros equipamentos, mas todos os sistemas existentes mostraram-se insatisfatórios. Resolveu assim projetar seu próprio aparelho rebreather, um sistema que possibilita ao mergulhador inspirar novamente o gás expirado. Apesar de menos restritivo, o invento mostrou-se por fim ineficaz e perigoso. Também durante esse período, Cousteau iniciou suas experiências com cinema subaquático. Em 1942, trabalhando com dois colegas, Philippe Talliez, um oficial naval, e Frédéric Dumas, um renomado pescador, produziu seu primeiro filme subaquático, a sessenta pés (18 metros) de profundidade. O filme de 18 minutos reflete as limitações técnicas da fotografia subaquática de então, embora bastante avançado para seu tempo. Cousteau entrou com o filme no Festival de Cinema de Cannes, onde recebeu elogios críticos, sendo comprado por um distribuidor.

Cousteau, Tailliez e Dumas, pioneiros das filmagens subaquáticas

O Aqualung


Por mais satisfeito que estivesse com seus esforços iniciais na fotografia subaquática, Cousteau percebeu que precisava passar mais tempo debaixo d’água para retratar com precisão os mistérios do oceano. Em 1937, começou a colaborar com Emile Gagnan, um engenheiro com talento para resolver problemas técnicos. Em 1942, Cousteau novamente voltou-se para Gagnan para obter respostas. Os dois passaram aproximadamente três semanas a desenvolver um regulador automático capaz de fornecer ar comprimido sob demanda. Este regulador, juntamente com dois tanques de ar comprimido, um bocal e mangueiras, foi o protótipo “Aqualung’, que Cousteau e Gagnan patentearam em 1943.

Jacques Cousteau por volta de 1967, usando o ‘Aqualung’, o primeiro equipamento de mergulho bem sucedido comercialmente, concebido em parceria com Émile Gagnan

Naquele verão, Cousteau, Tailliez e Dumas testaram o Aqualung’ na Costa Azul, litoral sul da França, banhado pelo Mediterrâneo, efetuando até quinhentos mergulhos separados. O equipamento foi usado no próximo projeto do grupo, uma exploração do ‘Dalton’, um vapor britânico afundado. A expedição forneceu material para o segundo filme de Cousteau, Epaves (Naufrágios). O filme impressionara profundamente as autoridades navais francesas, que recrutaram Cousteau para auxilia-las na perigosa tarefa de varrer as minas dos portos franceses. Quando a guerra terminou, Cousteau recebeu uma comissão para continuar sua pesquisa como parte do Grupo de Pesquisas Submarinas, que incluíra também Tailliez e Dumas. Com o aumento do financiamento e o acesso imediato a cientistas e engenheiros, o grupo expandiu sua pesquisa e desenvolveu uma série de inovações, incluindo um treno subaquático.

O Grupo de Pesquisas Submarinas, em 1947. Da esquerda para a direita: Cousteau, Georges, Tailliez, Pinard, Dumas e Morandière

Em 1947, usando o ‘Aqualung’, Cousteau estabeleceu um recorde mundial de mergulho livre, atingindo uma profundidade de 300 pés, o equivalente a 91, 44 metros. No ano seguinte, Dumas quebrou o recorde com um mergulho de 306 pés (93,27 metros). A equipe desenvolveu e aperfeiçoou muitas das técnicas de mergulho em águas profundas, elaborando rigorosos esquemas de descompressão que permitiam ao corpo se ajustar às
danças de pressão. O trabalho fisicamente exigente e perigoso teve seu impacto, com um membro da equipe de pesquisa morto durante testes subaquáticos.

Cousteau e o engenheiro Émile Gagnan (1900-1979), co-inventores do “Aqualung”. equipamento que revolucionou o mergulho. Foto do Dr. Harold Egerton, que tirou muitas excelentes fotos a bordo do ‘Calypso’, ajudando a registrar a história das expedições. Na foto acima, Egerton captou o momento em que Cousteau e Gagnan discutiam o design da próxima geração de ‘Aqualung’, projeto ao qual se dedicavam, em 1953.


O Calypso


Em 19 de julho de 1950, Cousteau comprou o ‘Calypso, um caça-minas da Marinha dos Estados Unidos, convertido em navio de pesquisas. No ano seguinte, depois de sofrer reformas significativas, o ‘Calypso’ navegou para o Mar Vermelho. A expedição ao Mar Vermelho de 1951-52 produziu inúmeras descobertas de espécies de plantas e animais desconhecidas e a identificação de bacias vulcânicas sob o Mar Vermelho. Em fevereiro de 1952, o ‘Calypso’ navegou em direção a Toulon. No caminho de casa, a equipe investigou um naufrágio inexplorado perto da costa sul da ilha de Grand Congloué, em Marselha, descobrindo um grande navio romano cheio de tesouros. O achado ajudou a difundir a fama de Cousteau na França. Em 1953, com a publicação de “O Mundo Silencioso”, Cousteau obteve destaque internacional. O livro, concebido a partir dos registros dos diários do capitão, foi escrito originalmente em inglês, com a ajuda do jornalista americano James Dugan e, mais tarde, traduzido para o francês. Lançado em mais de 20 idiomas, “O Mundo Silencioso” vendeu mais de cinco milhões de cópias em todo o mundo.
Em 1996, a embarcação foi abalroada por outro navio, vindo a naufragar no porto de Singapura, sendo posteriormente recuperado. Abandonado desde 2007 num porto francês, passa atualmente (junho de 2017) por trabalhos de restauração encampados pela Cousteau Society, visando seu relançamento como navio de pesquisas

RV ‘Calypso’, o famoso navio de pesquisas oceanográficas do Capitão Cousteau, chegando em Montreal, Canadá, em 30 de agosto de 1980. Em 1996, a embarcação foi abalroada por outro navio, vindo a naufragar no porto de Singapura, sendo posteriormente recuperado. Abandonado desde 2007 num porto francês, passa atualmente (junho de 2017) por trabalhos de restauração encampados pela Cousteau Society, visando seu relançamento como navio de pesquisas.

Em 1953, Cousteau começou a colaborar com Harold Edgerton, pioneiro em fotografia de alta velocidade, inventor da luz estroboscópica e outros dispositivos fotográficos. Edgerton e seu filho, William, passaram vários verões a bordo do ‘Calypso”, equipando o navio com uma câmera inovadora, que corria pelo fundo do oceano, enviando fotos borradas, mas intrigantes, das criaturas das profundezas. A morte de William Edgerton em um acidente de mergulho não relacionado acabara efetivamente com os experimentos, mas Cousteau já havia percebido as limitações de tal método de explorar as profundezas oceânicas. Ao invés disso, ele e sua equipe começaram a trabalhar em um submarino pequeno, facilmente manobrável, chamado diving saucer, ou seja, disco de mergulho. O submarino realizou mais de mil mergulhos e fez parte de inúmeras descobertas submarinas.

O SP-350 ‘Denise’, mais conhecido como diving saucer, o disco de mergulho. Projetado para ser tripulado por duas pessoas, o pequeno submarino atingia profundidades de até 400 metros (1.300 pés). Inventado por Jacques-Yves Cousteau e pelo engenheiro Jean Mollard no Centro Francês de Pesquisa Submarina, foi construído em 1959, sendo geralmente operado a partir do ‘Calypso’.

Revelando o mundo silencioso


Em 1955, o ‘Calypso’ zarpou rumo a uma viagem de 13,8 mil milhas, que foi gravada por Cousteau para uma versão cinematográfica de “O Mundo Silencioso”. O filme de noventa minutos estreou no Festival Internacional de Cinema de Cannes de 1956, onde recebeu o cobiçado Palme d’or. No ano seguinte, o filme ganhou um Oscar da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas. Em 1957, em parte devido ao sucesso de seu filme, Cousteau foi nomeado diretor do Instituto Oceanográfico e do Museu de Mônaco. O explorador encheu os aquários do museu com espécies raras e incomuns tiradas de suas expedições oceânicas.
Cousteau participou do primeiro Congresso Mundial Oceânico, em 1959, um evento que recebeu ampla cobertura e levou-o à capa da revista Time, em 28 de março de 1960. A cobertura altamente favorável pintou Cousteau como poeta das profundezas. Em abril de 1961, Cousteau recebeu a Medalha de Ouro da National Geographic Society, em uma cerimônia na Casa Branca, organizada pelo presidente John F. Kennedy. Na inscrição da medalha, lê-se: “Para o homem terrestre, ele deu a chave para o mundo silencioso”.

Jardim das Rosas da Casa Branca, 19 de abril de 1961. O presidente americano John F. Kennedy entrega a Jacques-Yves Cousteau a Medalha de Ouro da National Geographic Society. À direita da foto está o Dr. Melville Bell Gorsvenor, o então presidente e editor da National Geographic. “Aprendemos nos últimos sessenta anos como voar melhor do que os pássaros – ou pelo menos mais alto e mais longe – e o capitão nos deu a possibilidade de que algum dia possamos nadar como o peixe – ou pelo menos mais profundo. Ele é, portanto, um dos maiores exploradores de uma dimensão inteiramente nova. Posso imaginar sua satisfação ao ter aberto o oceano para o homem e para a ciênci

O Mundo de Jacques-Yves Cousteau


Durante o início da década de 1960, Cousteau e sua equipe participaram do programa ‘Conshelf Saturation Dive’, que pretendia provar a viabilidade da vida subaquática estendida. O sucesso da primeira missão levou ao ‘Conshelf il’, um projeto de um mês, envolvendo cinco mergulhadores. O programa ‘Conshelf’ e o projeto diving saucer forneceram material para o filme de 53 minutos ‘World without Sun” (Mundo Sem Sol), que estreou nos Estados Unidos em dezembro de 1964.
A primeira série de televisão de Cousteau, ‘The World of Jacques-Yves Cousteau’, foi transmitida em 1966. As altas classificações e aclamações críticas do programa ajudaram Cousteau a conquistar um contrato lucrativo com a American Broadcasting Company (ABC). ‘The Undersea World of Jacques Cousteau’ (O Mundo Submarino de Jacques Cousteau) estreou em 1968 e, desde então, foi retransmitido em centenas de países. No programa estrelaram Cousteau e seus filhos, Philippe e Jean-Michel. O programa correu por oito temporadas, com o último episódio exibido em maio de 1976. Em 1977, a série “The Cousteau Odyssey” estreou no sistema de radiodifusão pública. O novo programa refletiu a crescente preocupação de Cousteau com a destruição ambiental e tendeu a não se concentrar em espécies específicas de animais.

Cousteau e seus filhos, Philippe (ao centro) e Jean-Michel. Em 1991, um ano depois da morte de sua esposa Simone, por câncer, Cousteau se casou com Francine Triplet, mãe dos outros dois filhos do oceanógrafo, Diane Cousteau e Pierre-Yves Cousteau.


Um Duro goipe

Na década de 1970, a ‘Cousteau Society’, um grupo ambiental sem fins lucrativos, dedicado também em questões de paz, abriu suas portas em Bridgeport, Connecticut. Em 1975, a sociedade tinha mais de 120 mil membros, abrindo filiais em Los Angeles, Nova Iorque e Norfolk, na Virginia. Eventualmente, Cousteau decidiu fazer de Norfolk a base do ‘Calypso’.

Em 28 de junho de 1979, porém, um duro golpe atingiria a familia Cousteau. Philippe Cousteau (foto) foi morto quando o hidroavião que pilotava caiu no rio Tejo, perto de Lisboa, Portugal. A morte de Philippe aos 38 anos de idade afetou profundamente Cousteau, que até o seu falecimento não conseguiu falar sobre o acidente ou a perda de seu filho. Esperava-se que Philippe assumisse o comando do império construído por seu pai. Ao invés disso, Jean-Michel recebeu maior responsabilidade pela supervisão da ‘Cousteau Society’ e os outros empreendimentos de seu pai.
Em 1980, Cousteau assinou um contrato de um milhão de dólares com O Escritório Nacional de Filme Canadense para produzir dois
programas na via navegável do rio São Lourenço. Em 1984, estreava a série ‘Cousteau Amazon’ (A Amazônia de Jacques Cousteau). Os quatro programas foram recebidos com entusiasmo e chamaram a atenção para as culturas sul-americanas ameaçadas, a floresta amazônica e as criaturas de um dos maiores rios do mundo. O programa final da série, ‘Snowstorm in the Jungle”, explorou o mundo assustador do tráfico de cocaína. Em meados da década de 1980, ‘Cousteau / Mississippi: The Reluctant Ally” recebeu o prêmio Emmy Award. Ao todo, os programas de televisão de Cousteau receberam mais de 40 indicações para o Emmy.


Novas invenções

Além de seus programas de televisão, Cousteau continuou a produzir novas invenções. O ‘Sea Spider’, um dispositivo de diagnóstico de vários braços, foi desenvolvido para analisar a bioquímica da superfície do oceano. Em 1980, Cousteau e sua equipe começaram a trabalhar no ‘Turbovela’, mecanismo de transformação da força do vento, que usa velas de alta tecnologia para reduzir o consumo de combustível em grandes embarcações oceânicas. Como resultado do projeto, na primavera de 1985, Cousteau lançou um novo navio, o ‘Alcyone’, equipado com duas turbovelas, chamadas torres de vento”, de 33 pés (10 metros) de altura.

O ‘Alcyone’ ancorado em Caen, França, em junho de 2011. O navio a turbovela, de propriedade da Cousteau Society, possui 31 metros de comprimento e 9 metros de boca, podendo atingir 10,5 nós de velocidade. O nome é uma homenagem a Alcíone, personagem da mitologia grega, filha de Éolo, deus dos ventos.


O reconhecimento


Em homenagem às suas realizações, em 1985, Cousteau recebeu do governo francês a Grand-croix de l’ordre National du Mérite. No mesmo ano, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo presidente dos Estados Unidos, a maior condecoração civil do país. Em novembro de 1987, foi incluído no Television Academy Hall of Fame’, recebendo mais tarde o prêmio da Academia Internacional das Artes e Ciências Televisivas. Em 1988, a National Geographic Society o homenageou com o Prêmio do Centenário por suas “contribuições especiais para a humanidade ao longo dos anos”.

Jacques-Yves Cousteau, aos 74 anos, recebendo do presidente americano Ronald Reagan a Medalha Presidencial da Liberdade, em 23 maio de 1985

Uma vida dedicada ao mar


Enquanto alguns críticos desafiaram suas credenciais científicas, Cousteau nunca reivindicou o status de “especialista” em qualquer disciplina. Seu talento parecia tão poético quanto científico. Seus filmes e livros – entre os quais os 21 volumes da enciclopédia “The Ocean World of Jacques Cousteau” – têm uma qualidade lírica que transmitem o grande amor do capitão à natureza. Esse otimismo era temperado por suas preocupações sobre o meio ambiente. Ele demonstrou enfaticamente, talvez em maior grau do que qualquer um de seus contemporâneos, como a qualidade da terra e do mar está se deteriorando e como essa destruição ambiental é irreversível.

“A felicidade da abelha e do golfinho é existir. A do homem é descobrir isso e se maravilhar por eles” – Jacques-Yves Cousteau. Na foto, Jean-Michel Cousteau, filho primogênito do célebre explorador

Missão cumprida, capitão!


Cousteau continuou a falar publicamente sobre questões ambientais até chegar aos 80 anos, embora tivesse abandonado o mergulho em água fria. Nos anos anteriores à sua morte, ele estava planejando a construção do ‘Calypso 2’ para substituir o ‘Calypso’ original,
ara em um estaleiro de Singapura, em 1996. O navio de US$ 20 milhões deveria ser alimentado por energia solar e incluía equipamentos para um estúdio de televisão, laboratório marinho e instalação de transmissão por satélite. Em 25 de junho de 1997, porém, quando estava em sua casa, em Paris, duas semanas após completar 87 anos, o famoso oceanógrafo sofreu um ataque cardíaco fatal. Jacques-Yves Cousteau foi enterrado na sepultura de sua família, em Saint-André-de Cubzac, sua terra natal. A cidade homenageou-o com a rue du Commandant Cousteau, uma rua que corre para a casa de seu nascimento, onde uma placa comemorativa foi colocada.
Quando uma vez questionado sobre a morte, o capitão respondeu com serenidade e sabedoria: “Aceito a morte não apenas por ser inevitável, como também construtiva. Se não morrêssemos não apreciaríamos a vida”.
Embora não fosse particularmente um homem religioso, Cousteau acreditava que os ensinamentos das principais religiões proporcionavam valiosos ideais e pensamentos para a proteção do meio ambiente. Em um capítulo intitulado “As Sagradas Escrituras e o Meio Ambiente”, na obra póstuma “O Humano, a Orquídea e o Octopus”, ele é citado como afirmando que “a glória da natureza fornece evidências de que Deus existe”.
E quem melhor do que Cousteau para empreender a missão de revelar aos olhos do mundo a exuberante natureza das profundezas marinhas?

Estátua submarina de Jacques-Yves Cousteau, no Parque Nacional de Guadalupe, conhecido também como “Reserva Cousteau”, situada em torno das Ilhas Pigeon, na comuna francesa de Bouillante, no mar do Caribe. No local, Cousteau filmou várias cenas do longa-metragem “O Mundo Silencioso”, em 1955. Fascinado pela vasta diversidade biológica, o capitão incentivou a proteção da reserva, tarefa assumida pelas autoridades locais. Desde então, tornou-se um ponto bastante procurado pelos mergulhadores que exploram o arquipélago de Guadalupe.

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