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O motim sangrento do ‘Madagascar

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O motim sangrento do ‘Madagascar

O motim sangrento do ‘Madagascar

Um motim sangrento que resultou numa das maiores fortunas perdidas em águas brasileiras e num dos maiores mistérios da navegação.
Na postagem que inaugura o tópico “Mistérios Marítimos”, Diário de Bordo enfoca o intrigante caso do ‘Madagascar’.
A história adiante é baseada na versão mais difundida durante o século XX sobre o provável destino do obscuro navio.
Siga o rastro e tire suas próprias conclusões!

O ‘Madagascar’ – Litografia – C. 1853


Uma fragata mercante britânica

O ‘Madagascar’ foi um grande navio mercante britânico, empregado principalmente para o comércio com a Índia e a China, que desapareceu em uma viagem de Melbourne a Londres, em 1853. Depois do caso do ‘Mary Celeste”, o sumiço do “Madagascar’ é provavelmente o mais discutido mistério marítimo do século XIX. Construída em 1837 nos estaleiros Blackwall Yard, em Londres, a embarcação era co-propriedade de George e Henry Green e da família Wigram. Tratava-se de uma fragata de três mastros, mil toneladas e 45,90 metros de comprimento, a qual em seus curtos dezesseis anos de carreira realizou o transporte de cargas, passageiros e tropas entre a Inglaterra e a Índia até o final de 1852.
Além de sua tripulação normal, o navio levava também muitos garotos que treinavam para se tornarem oficiais da marinha mercante. Como aspirantes da prática naval, seus pais ou responsáveis pagavam por sua formação, recebendo os jovens um salário nominal de geralmente um shilling por mês.

Mudança de rota


No início da corrida ao ouro no estado australiano de Victoria (período conhecido como Victorian Gold Rush, entre 1851 e o final da década de 1860), o ‘Madagascar’ foi enviado com emigrantes para Melbourne, sob o comando do capitão Fortescue William Harris. A fragata deixou Plymouth em 11 de março de 1853 e, depois de uma viagem sem incidentes de 87 dias, atingiu Melbourne em 10 de junho. Todavia, ao chegar na cidade australiana, quatorze de seus sessenta tripulantes abandonaram o barco para tentar a sorte nas escavações de ouro. Mesmo assim, carregado de lā, arroz e cerca de duas toneladas de ouro no valor de 240.000 libras esterlinas, o navio zarpou com aproximadamente 110 passageiros rumo a Londres.
Na quarta-feira, dia 10 de agosto, próximo à hora da partida, a polícia local subiu a bordo para prender um certo John Francis, identificado como um dos responsáveis pelo roubo da Melbourne Private Escort, uma diligência que viajava entre o campo de ouro de Melvor (cidade de Heathcote, Victoria) e a cidade de Kyneton, no mesmo estado, fato ocorrido em 20 de julho.
No dia seguinte, outros dois homens foram presos, um já a bordo, o outro prestes a embarcar, ambos acusados de participação no mesmo crime. Em consequência destas detenções, o “Madagascar’ deixou Melbourne somente na sexta-feira, 12 de agosto. Depois de passar por Port Phillip, uma grande baía ao sul de Victoria, a fragata nunca mais foi vista.

Especulações sobre o paradeiro

Quando o Madagascar’ foi considerado perdido, muitas versões sobre seu paradeiro surgiram. Dentre as principais teorias, cogitaram-se a combustão espontânea da carga de lā, a colisão contra um iceberg, bem como, a mais divulgada, um provável motim a bordo, liderado por elementos criminosos da tripulação, os quais afundaram o navio e mataram passageiros e outros tripulantes, a fim de repartirem entre si a valiosa carga em ouro.
Para reforçar esta versão, em 1872 foram publicadas pela primeira vez uma suposta confissão no leito de morte dada por um homem que “sabia quem era o assassino do capitão do Madagascar”. No século seguinte, muitas histórias consideradas fictícias foram publicadas em tal rumor, merecendo a atenção de autores renomados, tais como Basil Lubbock e lames A. Michener.
Contudo, a maioria das versões do século XX afirma que a confissão no leito de morte foi dada por uma passageira que caíra em poder dos amotinados, a qual omitira por muitos anos a história, envergonhada e receosa em revelar os estupros que sofrera.
Seu nome era Jenny Prentice e dentre os diversos escritos sobre sua terrível experiência a bordo da fragata britânica, Diário de Bordo traduz em primeira-mão para o público brasileiro o artigo “Blood Mutiny of the Madagascar” (“O motim sangrento do Madagascar”) de autoria de Jack Lewis, publicado na revista americana Sea Classics, em sua edição de julho de 1983.
Desvende a seguir o impressionante mistério do ‘Madagascar’!

O motim sangrento do ‘Madagascar


“Eu matarei o primeiro bastardo que der um passol”, gritou o primeiro-marinheiro Jenkins aos doze homens que avançavam em sua direção com facas e pedaços de madeira. “Nós mataremos vocês”, respondeu um dos amotinados, brandindo sua faca. “Tem ouro a bordo e nós o queremosi”.
Enquanto este homem, um gigante de barba ruiva, mantinha a atenção de Jenkins, outro homem chamado Manners se aproximava por trás do primeiro-marinheiro, segurando na mão uma afiada faca.
As palavras de advertência tinham acabado de ser pronunciadas quando Manners, escondido atrás de um mastro, enterrou sua faca nas costas de Jenkins com um golpe profundo. Os demais amotinados aproveitaram o momento para atacar, mas o primeiro marinheiro, mesmo com o rosto contorcido pela dor, atirou contra o gigante de barba ruiva. Assim que o homem tombou morto, o capitão do navio desceu correndo pela escada com alguns membros leais da tripulação, todos bem armados. Antes que Manners pudesse se retirar detrás do mastro, uma bala disparada por um marinheiro derrubou-o fatalmente. Jenkins atirou novamente e um terceiro homem caiu no convés já morto.
Mortalmente ferido, Jenkins soltou a arma e tombou no convés, morrendo antes que o Capitão ou algum membro leal da tripulação pudessem socorrê-lo. Na confusão, os amotinados foram rapidamente subjugados. Seis deles foram capturados, acorrentados e atirados no porão. Os três restantes, porém, incluindo o líder do motim, conseguiram escapar.
O capitão Fortescue Harris, mestre do “Madagascar, uma fragata de três mastros e mil toneladas, sentiu então que a revolta tinha sido suprimida.
Contudo, ao mesmo tempo, Joseph Grey, um viajante que era procurado por homicidio havia se reunido no porão com os amotinados sedentos de sangue, convencendo-os que o ouro ainda podia lhes pertencer.
“O capitão pensa que resolveu a nossa sorte”, dissera ele, “e nesta hora nós o pegaremos de surpresa”. Rapidamente, ele explicou como os homens aprisionados poderiam ser libertados, bem como, dominada a tripulação do navio. Grey tinha entrado no ‘Madagascar’ clandestinamente, subornando para tanto o carpinteiro do navio, ele próprio um dos amotinados, que arranjara um lugar para o criminoso dentro de sua grande caixa de ferramentas, enquanto a polícia percorria Melbourne à sua caça. Ele era procurado pela participação no assassinato de quatro guardas e roubo de dez mil libras – algo próximo de cinquenta mil dólares – em ouro. A diligência retornava dos campos de ouro de Bendigo, Austrália, quando foi atacada por Grey e outros três homens. Seus comparsas foram capturados e condenados à forca, mas Grey fugira com sua parte do botim, procurando o navio como um refugio.

O motim do ‘Madagascar’

Na manha de agosto de 1853, o ‘Madagascar zarpou de Melbourne e, tāo logo deixara a caixa de ferramentas, Grey soube que a embarcação transportava 68, 390 onças em ouro, aproximadamente um milhão de dólares!
Permanecendo escondido na caixa de ferramentas, o fugitivo começou então a conspirar para obter o novo lote de ouro, destinado ao Banco da Inglaterra.
A bordo da fragata, ele descobriu que viajavam noventa passageiros e uma tripulação por volta de quarenta homens, a maioria formada por marinheiros recrutados da escória que vivia à beira-mar de Melbourne, muitos dos quais haviam abandonado o trabalho no mar para aventurarem-se nos campos de ouro de Balarat e Bendigo. Este era o perfil da tripulação do capitão Harris, dentro da qual Grey passara a recrutar seu bando de assassinos, além de certo número de ex-presidiários alojados entre os passageiros da terceira classe.
“Tem ouro suficiente para todos nós vivermos no luxo pelo resto de nossas vidas”, ele contara aos seus seguidores. “Nós tomaremos o navio e o afundaremos assim que estivermos próximos a terra. Então, fundaremos nosso próprio império na América do Sul”.
Como visto, a primeira tentativa de pirataria foi derrotada, mas as garantias do capitão Harris aos seus passageiros logo se revelaram promessas vazias quando, poucos dias depois, Grey e seu bando de vilões atacaram novamente.
Numa noite, o capitão Harris estava jantando no salāo com os passageiros de primeira classe quando um tiro foi disparado no convés. Muitos dos convidados reagiram com grande susto, recordando-se do motim abortado.
No instante seguinte, Joseph Grey e uma dúzia de conspiradores irromperam no salão, a maioria armada com pistolas tomadas da parte leal da tripulação. O disparo de pistola era o sinal de Grey para seus homens, estrategicamente posicionados, dominarem o timoneiro e todos os outros que haviam demonstrado lealdade ao navio. Naquele exato momento, a maioria tinha sido morta ou ferida no convés, enquanto outros foram atirados ao mar pelos amotinados, gritando por socorro na esteira espumosa que cercava a embarcação.
Desarmado, Harris atirou uma jarra de prata em Grey, que vociferou uma maldição blasfema ao capitão antes de disparar-lhe um tiro. Antes que Harris caísse, o resto dos assassinos precipitou-se contra ele, matando-o a facadas.
Sem demora, os passageiros do sexo masculino foram dominados antes que pusessem reagir e, reunidos num canto, massacrados pelos amotinados a golpes de faca e tiros de pistola.
“Vocês serão enforcados por issol”, um rico criador de carneiros bradou para Grey. “Vocês serão enforcados nas docas de Londres”.
“Você esqueceu uma coisa, meu bom homem. Deve haver testemunhas. Não haverá nenhuma”, respondeu-lhe Grey, triunfante.
Antes que mais protestos fossem feitos, Grey baixou a mão num sinal e o canto onde os passageiros homens estavam reclusos foi coberto pela fumaça levantada pelas pistolas de pólvora negra. Um a um, os passageiros do sexo masculino foram eliminados, aos olhos desesperados e gritos de horror de suas esposas e filhos.
Nas horas seguintes, Grey perdeu o controle dos ensandecidos amotinados, que rasgavam as roupas das mulheres mais jovens e as violentavam, saqueavam a bagagem dos passageiros e pilhavam os estoques de licor da fragata. O líder do motim recorreu então à carga de ouro transportada pelo navio para impor a ordem no bando. Arrombando o cofre da cabine do capitão e usando o salão como uma casa de contagem, ele dividiu as 68, 390 Onças de ouro em lotes. Grey reservara para si mesmo um lote duplo, o que gerou protestos descontentes por parte da tripulação, mas sua pistola carregada numa das mãos dissuadia qualquer tentativa de reação.
É possível imaginar o terror e horror que tomou conta das mulheres e suas crianças durante esta operação a sangue frio. Algumas delas ficaram em estado de choque ao testemunharem as mortes cruéis infligidas aos seus maridos e pais. Outras cortavam os cabelos e arranhavam os rostos com as unhas para não se mostrarem atraentes para aqueles animalescos amotinados tomados por insaciáveis desejos de luxúria.
Dentre as passageiras estava Jenny Prentice, vivendo então o início de seus vinte anos, rechonchuda e atraente. Ela embarcara como companhia para uma mulher inválida, que viajava de volta para casa na Inglaterra para viver seus últimos anos. Jenny passara despercebida pelos amotinados em seu primeiro ataque às mulheres, mas logo percebera que estava bem perto de ser a próxima vítima.
Desconhecido pelos passageiros, Grey dava continuidade ao seu plano que previa a eliminação de todas as testemunhas possíveis contra ele e seus subordinados. Seguindo suas ordens, os amotinados tinham arrastado barris de sebo do porão e, com o auxílio de grandes cotonetes, cobriam o aparelhamento e o convés do navio com graxa altamente inflamável.
Logo fortes batidas oriundas do fundo dos porões foram ouvidas nas cobertas da fragata. “O que eles estão fazendo?”, Jenny sussurrou para a inválida mulher ao seu lado, estremecendo de susto. “Estão abrindo buracos no cascol”, gritou histericamente a mulher. “Eles querem afogar a todos nós como ratos”.
A mulher adivinhara o que acontecia. Grey não queria dar nenhuma chance para que a verdade viesse à tona. Minutos depois, ele irrompeu no salão onde as mulheres e crianças indefesas ainda estavam amontoadas, trazendo consigo uma dúzia da ralé que liderava.
Sem qualquer palavra, Jenny Prentice e seis das mulheres mais jovens foram arrastadas do meio das demais e levadas com brutalidade para o convés. Barulhos de quedas na água indicavam que os botes tinham sido lançados.
Uma das mulheres que gritavam encostou-se inadvertidamente ao cordame em chamas e, alastrando-se o fogo em suas roupas, semelhante a uma tocha, caiu da amurada, batendo inconsciente num dos quatro botes a espera. O acidente serviu de alerta às demais mulheres, que desceram com cuidado das escadas para os batéis, enquanto o convés da embarcação era rapidamente consumido pelas chamas. Os amotinados desceram em seguida acomodando nos botes sua parte do saque. Tomando os remos, afastaram-se depois para longe do navio condenado. O ‘Madagascar’ se perdia no mar, as chamas atingiam o topo do mastro e os gritos de medo e angústia dos passageiros deixados a bordo ecoavam através das águas.
Enquanto isso, num dos botes dos amotinados achava-se Robert Clancy. Embora também ele um assassino, parecia estar um pouco acima da média dos demais. Seus conhecimentos de navegação foram suficientes para que o curso fosse alterado para a costa do Brasil, que calculava estar a três dias de distância. Jenny Prentice sentiu que ele podia protegê-la dos outros rufiões e atrelou-se a este homem.
Entrementes, os amotinados caíram sobre as outras garotas, rasgando suas roupas e se revezando em violá-las. Ao menos uma das meninas, gritando de medo e ferida após um ataque, atirou-se ao mar e desapareceu sob as águas. Grey encontrava-se em outro batel, ainda armado com um par de pistolas, concentrado em manter alguma ordem entre os amotinados, mas os homens haviam contrabandeada para bordo um suprimento de rum e começaram a beber descontroladamente, interrompendo a bebedeira apenas para violar as pobres garotas. Um dos homens no bote de Grey caiu no mar numa noite, afogando-se em seu estupor alcoólico. O líder imediatamente dividiu o ouro do morto entre ele e os demais membros do batel.
No terceiro dia, o bote líder avistou terra e os amotinados, agora sóbrios e cansados do mar, remaram com suas forças restantes em direção aos afloramentos rochosos que caracterizam a costa da América do Sul. Tarde demais, eles descobriram que estavam à mercê de grandes ondas que se chocavam contra as pedras. Um após outro, os botes viraram e homens e mulheres se afogavam enquanto eram arrastados pela forte correnteza.
Em meio a gritos de medo e maldições blasfemas, Jenny e seu protetor, Robert Clancy, lograram chegar até a praia, atirando-se na areia quente. Deveras extenuados e miseráveis, mal conseguiam falar. Naquele momento, tudo o que acontecera com ela parecia um pesadelo, mas Jenny sequer podia imaginar o que ainda estava por vir. Quando os sobreviventes eram contados, Joseph Grey estava entre eles, mas o líder do motim perdera todo seu ouro e as armas. Em verdade, todo o ouro tinha ido para o fundo junto com os batéis, tragados pelo mar turbulento. Toda aquela matança tinha sido em vāol
Dentre os sobreviventes do sangrento motim do ‘Madagascar’ restaram apenas cinco garotas, entre elas Jenny Prentice, além de doze homens!
Amparado em seus conhecimentos de navegação, Robert Clancy assumiu o comando do grupo, dizendo a todos que deveriam seguir o caminho terra adentro a fim de encontrar comida e água fresca. Grey estava furioso em ter sido substituído como líder, mas todos os sobreviventes aceitaram rapidamente Clancy como o novo chefe. Vários dias mais tarde, Joseph Grey foi morto acidentalmente durante uma briga entre os amotinados, em disputa pelas mulheres. Ao término do conflito, somente seis deles ainda estavam vivos.
No esfarrapado grupo que esquecera os sonhos de ouro em favor da sobrevivência, Jenny continuara atrelada a Clancy, enquanto as outras quatro mulheres eram compartilhadas entre os homens remanescentes. Robert Clancy podia conhecer bastante de navegação, mas nada sabia da geografia da América do Sul. Desse modo, não demorou muito até que o bando se visse cercado por pântanos e selvas, queimando todos eles em febre tropical. Durante os próximos sete dias, na intensa luta contra a natureza, forçando o caminho através da cerrada vegetação, dormindo juntos à noite como proteção contra cobras e outros animais, eles começaram a morrer um a um. Clancy, porém, seguia de pé, atravessando rios com água pelo joelho, escapando de répteis a espreita,
segurando sempre a mão de Jenny e deitando-se próximo a ela todas as noites.
Uma semana depois, Clancy, Jenny e outro homem que mais tarde morreu de febre chegaram à pequena cidade de Faxina, na então Província do Grão-Pará. Nesta altura, a jovem estava perdida de amor – ou pensava que estava – pelo homem que a tinha protegido dos demais aventureiros e da natureza.
Apesar de Clancy não ter conservado o ouro roubado, ele possuía dinheiro e joias do saque efetuado entre os passageiros do ‘Madagascar’ deixados para morrer. Desse modo, ele contratou guias que os conduziram ao porto de Santos, aonde puderam pegar uma pequena embarcação costeira rumo ao Rio de Janeiro. Com os recursos que ainda dispunha, Clancy pagou uma passagem para Jenny com destino a Louisiana, Estados Unidos, tomando o mesmo caminho em outro navio. Na cidade de New Orleans, eles viveram juntos por algum tempo, Clancy trabalhando na manutenção de embarcações no rio Mississipi e Jenny como costureira.
As brigas entre o casal, entretanto, levaram Clancy a partir e sumir completamente de vista. Utilizando o pouco de dinheiro que fora deixado pelo ex-companheiro, Jenny comprou uma passagem num navio rumo a Auckland, na Nova Zelândia, aonde vivia uma irmā casada. Neste tempo, ela contava os seus 30 anos e já tinha perdido a beleza, mas agora livre dos perigos.
A razão de Jenny ter omitido a incrível história ao chegar a Auckland nunca foi explicada, mas se ela admitisse publicamente que teve a honra ultrajada várias vezes quando esteve a bordo do malfadado navio, certamente teria criado um escândalo na conservadora sociedade pré-vitoriana na qual vivia. Este era o tipo de notoriedade que ela não queria.
De qualquer forma, Jenny abriu uma pequena loja de costura e desse modo viveu de maneira modesta até que um dia, no início da década de 1890, quando se achava à beira da morte, contou toda a história de pirataria para um padre que havia sido chamado para ministrar-lhe os últimos sacramentos.
A maior fortuna perdida num naufrágio em águas brasileiras.

Painel de Carlos Alfredo Hablitzel (1919-1988), em exposição no Museu Marítimo de Santos, retratando o caso do ‘Madagascar’.

Nos meses seguintes ao desaparecimento do ‘Madagascar’, a firma Lloyd of London, seguradora do navio e de sua carga, instituiu um trabalho de busca por todo o mundo, mas nenhum sinal jamais fora encontrado. A fragata foi listada como perdida e nenhum outro registro veio à tona até Jenny Prentice revelar a história em seu leito de morte, apenas quarenta anos após o trágico episódio.
Desde então, a confissão de Jenny tem sido interpretada por alguns como delírios de uma mulher prestes a morrer. Por outro lado, existem os que afirmam que somente quem esteve realmente a bordo do ‘Madagascar’ na ocasião de seu sumiço poderia fornecer informações tão precisas sobre o caso, exatamente como ela demonstrou.
Apesar do testemunho de Jenny Prentice e da publicidade dada à sua história logo após sua morte, o ‘Madagascar’ ainda é listado nos arquivos do Almirantado Britânico com a lacônica expressão lost at sea, ou seja, perdido no mar.
Mas que outra explicação poderia existir?

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