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O polêmico caso do ‘SS Californian’

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O polêmico caso do ‘SS Californian’

O polêmico caso do ‘SS Californian’

A tragédia que vitimou mais de mil e quinhentas pessoas no tristemente célebre naufrágio do ‘RMS Titanic’ poderia ter sido evitada?
Em suas primeiras anotações, Diário de Bordo comenta o polêmico caso do ‘SS Californian’, um cargueiro britânico que na fatídica madrugada do dia 15 de abril de 1912 encontrava-se muito próximo da área onde o famoso transatlântico chocara-se contra um iceberg.
Discussões a respeito de uma possível negligência do comandante do navio e de sua tripulação nos socorros à embarcação compatriota perduram até os dias atuais.
Confira conosco o intrigante episódiol

O ‘SS Californian’ na manhã seguinte ao naufrágio do ‘RMS Titanic’.

Foto tirada a partir da visão do ‘RMS Carpathia’. 15/04/1912.

O navio

Construído nos estaleiros da Caledon Shipbuilding & Engineering Company, em Dundee, Escócia, o Californian pertencia à companhia marítima britânica Leyland Line, fundada em 1873 e extinta em 1935.
Com 136 metros de comprimento, 6.233 toneladas e uma velocidade média de 12 nós (22 km/h), o vapor de uma chaminé fora destinado especialmente para o transporte de algodão, todavia, comportava também 47 passageiros e 55 tripulantes. Lançado ao mar em 26 de novembro de 1901, realizou sua viagem inaugural entre 31 de janeiro a 3 de março de 1902, traçando a rota Dundee-New Orleans (Louisiana, EUA).


O incidente

No dia 5 de abril de 1912, o Californian iniciou a viagem que envolveria seu nome numa controvérsia já secular. Comandado pelo capitão Stanley Lord (foto abaixo, à esquerda), o cargueiro deixara Londres com destino a Boston (Massachusetts, EUA), levando a bordo apenas sua tripulação.
A travessia do Atlântico transcorria dentro de perfeita normalidade, até que, no dia 14 de abril, às 22h20min, o operador de telégrafo Cyril Evans (foto abaixo, à direita) entregou ao comandante um comunicado preocupante: três grandes icebergs haviam sido relatados a 15 milhas (24 km) a norte do curso. Justamente o local para aonde seguia o maior e mais
luxuoso navio de seu tempo, o ‘RMS Titanic’, da companhia White Star Line.

Naquela mesma noite, porém, o Californian entrara em uma zona repleta de icebergs, em uma localização ao sul dos Grandes Bancos de Newfoundland, uma grande ilha da costa leste do Canadá. Prestemente, o capitão ordenara a reversão dos motores para ré total, contudo, a manobra não permitira a saída da embarcação do perigoso mar de gelo.
Nada mais podia ser feito a não ser ancorar e aguardar por melhores condições na manhã seguinte. Enquanto Stanley Lord comunicava seus oficiais sobre a decisão, avistaram se luzes a se aproximar. Consultando o telégrafo Evans sobre a existência de algum outro navio na área, o comandante recebera como resposta: “Somente o Titanic”.
Enquanto isso, no Titanic, o operador de rádio Jack Phillips (foto abaixo, à esquerda) tentava comunicação com a estação de Cape
Race, em Newfoundland. Desafortunadamente. Phillips conseguira contato com a estação no mesmo instante em que
Evans lhe avisava sobre a ancoragem do Californian em razão do gelo. Irritado pela mensagem do cargueiro que atrapalhava seu contato com Cape Race, Phillips censurou fortemente Evans: “Cala a bocal Cala a boca que eu estou ocupadol Estou trabalhandol Cape Racel”.
Após o conturbado e ligeiro contato, Cyril Evans desligou o telégrafo e foi dormir. Era 23h30min.
Dez minutos depois o Titanic colidia com o iceberg.
As 23h50min, um oficial do Californian avistava um navio não muito longe. Nos primeiros minutos do dia 15 de abril, o Titanic enviava seu primeiro pedido de socorro.

Por volta das Oh45min, o Segundo Oficial do Californian, Herbert Stone, viu um intenso clarão rasgar as trevas da madrugada. Achando tratar-se de uma estrela cadente, acabou por ignorar o fato, mas este logo se repetiu. Desse modo, percebeu que eram foguetes de sinalização, num total de cinco disparos. Ligando prontamente para seu comandante, informou-o sobre o ocorrido. O capitão Stanley Lord perguntou-lhe então sobre as características dos sinais. Segundo o regulamento da época, foguetes de quaisquer cores atirados em intervalos de um minuto deveriam ser interpretados como pedidos de socorro. Todavia, os disparos do Titanic foram efetuados em intervalos irregulares, o que provavelmente gerou as dúvidas a bordo do Californian sobre a gravidade do caso. Diante disso, Stanley Lord limitou-se a orientar a tripulação a continuar atenta a novos sinais, determinando a continuidade das tentativas de comunicação com o navio com a Lâmpada de Morse, que até então se mostravam infrutiferas.
As 2 horas da madrugada, o oficial aprendiz James Gibson transmitira ao capitão um relato semelhante ao de Stone: mais oito foguetes brancos haviam sido disparados. O comandante indagou-o sobre a certeza da cor do foguete. Gibson confirmou e se retirou.
Às 2h20min o ‘RMS Titanic’ afundou nas águas geladas do Atlântico Norte.


Uma hora depois, Gibson avistou foguetes em direção ao sul, os quais foram disparados pelo ‘RMS Carpathia”, que se empenhava em sinalizar aos botes do Titanic que a ajudava estava próxima. Somente às 4h16min a tripulação do Californian identificou a presença do Carpathia.
As 4h30min, o capitão Stanley Lord levantou da cama e procurou imediatamente Evans. Encontrou-o no convés e determinou que descobrisse a razão para os foguetes disparados naquela noite. Operando seu rádio, o telegrafista soube da notícia da colisão do Titanic com um iceberg e seu afundamento duas horas antes.
Finalmente, o comandante do Californian emitiu ordens para se navegar até o ponto de onde partiram
as luzes. Ao atingir o local, verificou que o Carpathia recolhia o último bote com os sobreviventes do naufrágio. Os dois navios comunicaram-se e, concluido seu trabalho de resgate, o Carpathia deixou o Californian sozinho na área, para que prosseguisse a busca por outros sobreviventes. Mas só restavam destroços e botes vazios…


Inquéritos
Após o naufrágio do Titanic, inquéritos foram realizados na Grā-Bretanha e nos Estados Unidos visando investigar o procedimento do ‘SS Californian’ diante do trágico episódio.
Testemunhos dos oficiais do cargueiro colhidos no inquérito britânico revelaram conversas nas quais sua tripulação parecia realmente ter percebido os indícios de um grave acidente, entretanto, em virtude de uma provável indefinição ou precaução de seu capitão, permanecera imobilizada.
“Um navio não iria disparar foguetes no mar por nada”, afirmara o Segundo Oficial Stone. “Dê uma olhada para ele agora. Parece que ele está fora da água. Isso está muito estranho”, comentara também.
“Ele parece estar com a metade da lateral para fora d’água”, atestara igualmente o oficial aprendiz Gibson. “Isso não está bem. Parece uma situação aflitiva”.
Os resultados dos inquéritos levaram o capitão Stanley Lord a ser acusado de negligência no caso, em função de sua inércia diante dos foguetes disparados pela embarcação socobrada. Desde então, sua carreira e reputação foram destruídas.

‘RMS Carpathia’ em Nova Iorque, depois de desembarcar os sobreviventes do ‘RMS Titanic’

O fim do ‘SS Californian’
Numa triste ironia do destino, o ‘SS Californian’ teve o mesmo fim do ‘RMS Titanic’, mas com a significativa diferença de que seu naufrágio verificou-se em tempos de guerra, registrando apenas uma vítima fatal.
No decurso da I Guerra Mundial, incorporado pela Marinha Real Britânica como navio de transporte de tropas no Mediterrâneo, o cargueiro viajava de Salonica (Grécia) para Marselha (França) quando fora torpedeado em 9 de novembro de 1915 pelo submarino alemão ‘SM U 35’, o maior carrasco de embarcações mercantes durante o conflito.
O afundamento ocorreu a cerca de 60 milhas (98 km) ao sul-sudoeste do Cabo Matapan (Grécia) e, em outra infeliz coincidência, encontra-se a menos de 200 milhas (320 km) do local onde o ‘HMHS Britannic’, o navio irmão do Titanic, afundara um ano depois.
Apesar de tais referências, até hoje se ignora a localização exata dos destroços do ‘SS Californian’.

Local do naufrágio do ‘ SS Californian’, ao largo do Cabo Matapan, Grécia.
Submarino alemão SM U-35, que torpedeou o ‘SS Californian’, em 09/11/1915, durante a I Guerra Mundial.

Uma polêmica secular

Não obstante o torpedeamento do ‘SS Californian’ completar cem anos, as principais discussões relativas ao navio continuam ligadas ao seu controverso papel na sinistra noite de 14 para 15 de abril de 1912. Stanley Lord e sua tripulação notaram de fato o que acontecera com o Titanic? Cercado por um mar de gelo, o cargueiro teria realmente condições de prestar socorro ao transatlântico? Seu capitão falhou por negligência ou excessiva cautela, merecendo o veredito desfavorável de seus contemporâneos? O Californian poderia ter evitado o naufrágio mais conhecido e discutido da História? Pouco mais de um século após os acontecimentos, tais perguntas e muitas outras continuam sem resposta.

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